sexta-feira, 24 de julho de 2015

VOCÊ NÃO ESTÁ NUM SUPERMERCADO. ISTO É A VIDA. E A VIDA ESTÁ CHEIA DE PESSOAS.

VOCÊ NÃO ESTÁ NUM SUPERMERCADO. ISTO É A VIDA. E A VIDA ESTÁ CHEIA DE PESSOAS.
(Por Denize Vicente)

Sentada num fim de tarde e folheando “Em Outras Palavras”, da Lya Luft, encontro um texto em que ela discorre sobre os rótulos que colocamos nas pessoas. Na verdade, ela nos leva a refletir sobre as relações simpáticas e agradáveis que iniciamos – sejam de amor ou de amizade -, e que, de repente, lenta e insidiosamente, se transformam em indiferença, irritação, e até em crueldade...

Há dois trechos nessa mesma crônica que retratam muito bem essa forma de agir:

No mais trivial comentário, por que, em lugar de olhar para o outro, a gente tem tanta facilidade em rotular, discriminando, marcando a ferro e fogo o colega, amigo, vizinho, amado ou amada, até mesmo rival? Humilhamos até sem pensar: “Burro, arrogante, falso, preguiçoso, mentiroso, omisso, desleal, vulgar, gordo, magrela, baixinho, pigmeu, girafa, vesgo, gay.”
(...)
Pergunto a uma amiga pelo seu genro: "Aquele? Cada vez mais gordo!" Mas talvez eu quisesse saber se fazia a filha dela feliz.
E nossa amiga comum? "Irreconhecível, deve ter feito a milésima plástica!" Não me deixou saber se a mulher de quem falávamos se recuperara da viuvez ou de alguma doença, se estava deprimida ou superando algum trauma.1
Você percebe como é tão comum rotular, mesmo quando pensa que está apenas “batendo papo”? Colocamos rótulos nas pessoas de forma tão natural e corriqueira, e com tamanha frequência, que de tão habitual nem nos causa estranheza! Trocamos a conversa que importa por superficialidades que não interessam. Como isso é horrível!

"Sujeito metido a besta, cidadezinha sem graça, curso fraco, professor ultrapassado, alunos medíocres, emprego de quinta, cantor desafinado, empresário falido, ou, na imprensa: ‘mulher, aposentado, idoso’"2, são etiquetas de identificação, que qualificam e estratificam os lugares e as pessoas, muitas vezes de um jeito pejorativo, e, em geral, quando se trata de gente, explicitando suas imperfeições físicas ou suas debilidades. Mas as pessoas têm nome, sentem, vivem, sofrem, existem para além do que estampam, são mais do que aparência, não se confundem com a sua profissão, com seu estado civil, com a religião que professam, com a cidade onde nasceram, com o lugar onde moram, com suas características físicas, tampouco com suas fraquezas ou seus fracassos.

Diversas histórias bíblicas mostram como Jesus Cristo, o homem mais amável do mundo, tratava as pessoas. Ele não as rotulava; aliás, arrancava as etiquetas que eram colocadas pelos outros – prostituta, leproso, anão, coletor de impostos, samaritano, rico, jovem, publicano, viúva, escravo, senhor, gentio, mulher, fariseu, aleijado, cego... – porque, conhecendo as intenções, a essência, era capaz de se relacionar com a pessoa e não com a imagem rotulada.

Nós também convivemos com pessoas e não com imagens rotuladas.

Valorize seus relacionamentos; seja agradável ao se referir a alguém; cuide bem daqueles com quem você convive, evitando comentários maldosos, palavras que ferem, olhares que machucam. Cada ser humano tem dificuldades, problemas, qualidades e sentimentos. Mas nenhum deles é isso. São pessoas. Não devem ser rotuladas nem reduzidas.

Ao se relacionar com as pessoas, não coloque etiquetas e retire as que você encontrar. Seja amável. Como Jesus.
Isso fará bem a elas. A você. Ao mundo. À vida.


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Referências:

1- LUFT, Lya. Em outras palavras. Rio de Janeiro: Record, 2006 – 2ª edição pp. 119 e 120
2- Ibidem, p. 120

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