sábado, 3 de fevereiro de 2018

TOCOU-ME

TOCOU-ME
Jackson Valoni – Angra dos Reis/RJ

Alguém envolvido no tráfico pichou as letras “CV” no muro de uma igreja que fica no pé do morro, no bairro do Frade, em Angra dos Reis. Fui até essa igreja, mês passado, num sábado pela manhã.

A igreja marcava o início do território controlado pela facção criminosa. Quando cheguei lá, por volta das 9h, os portões ainda estavam fechados. Algumas crianças já aguardavam do lado de fora, quando chegamos. Uma moto passou perto de nós com um homem na garupa exibindo uma pistola. Pouco antes, uma sequência de tiros pôde ser ouvida, como se fossem disparados pra cima, pra assustar alguém.

Mais alguns minutos, a mesma moto, com as mesmas pessoas, passou perto de nós. Eu olhava para aqueles rapazes enquanto minha esposa falava pra eu parar de encarar. Eu não fazia de propósito, apenas reparava na naturalidade com que eles circulavam pela rua.

Tinha havido forte tiroteio ali, na noite anterior. Uma das crianças que aguardavam do lado de fora da igreja me disse que uma bala de fuzil atravessara a casa dela.

Estava programado para que eu pregasse naquela igreja, naquele dia. Aconteceu tudo conforme o combinado. Preguei, minha esposa contou uma história para as crianças, e depois do culto almoçamos nas dependências da igreja com os membros.

Reina certo ar de normalidade naquela área. Trabalho com um dos moradores do Frade, e ele comenta que os traficantes não fazem nada “se os moradores não derem mole na rua”. Durante a sequência de tiros que ouvi durante aquela manhã, fiquei gelado de medo, mas cheguei a ver o sorriso de um dos moradores, como se estivesse alheio, ou anestesiado, com o que estava acontecendo.


É do ser humano se acostumar com coisas com as quais convive? É o que acontece entre os profissionais da área de saúde e o sangue; os coveiros e o som do choro; os agentes penitenciários e o ambiente prisional; peritos criminais e cenas de crime.

Talvez a mente permita adaptar o ser humano a certas condições tristes como forma de defesa. E essa talvez seja mais uma prova de que não fomos criados para viver assim, em constante defesa, tornando-nos apáticos aos riscos que nos cercam.


Mas, se há defesa diante de tragédias, de forma mais amistosa o ser humano perde o medo da solidão quando encontra alguém que o ama; um casal colore a sua vida com o nascimento de seu filho; a maneira de viver dá uma reviravolta quando alguém recebe a cura de uma grave doença... Essas são algumas provas de que fomos feitos para ser felizes, e nos adaptamos muito bem a essa possibilidade.

Jesus curou um homem, certa vez. Com um toque sua doença se foi. Um toque. Você pode se acostumar com essa ideia, se chamar por Jesus e pedir para que Ele toque em Seu coração. Ele se sente tão bem em tirar a tristeza das pessoas! Deus pode tocar em seu coração, torná-lo mais feliz e lhe dar forças pra enfrentar qualquer coisa.



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