sexta-feira, 7 de agosto de 2015

MESA DE JANTAR


MESA DE JANTAR
(Por Denize Vicente)

Todos que me conhecem sabem que meu escritor favorito é Leo Buscaglia.
E hoje, a propósito do Dia dos Pais, vou contar pra vocês como era o jantar na casa dos Buscaglia. Se você convive comigo há algum tempo ou se foi meu aluno ou trabalhou comigo, provavelmente já conhece essa história, porque, certamente, eu já contei pra você. Mas sempre vale a pena ouvir de novo.

Leo Buscaglia conta que seus pais vieram de um vilarejo, na base dos alpes italianos, onde todos se conheciam. Diz que todos sabiam o nome dos cachorros, e que o padre vinha para as festas na rua, embebedando-se como todo mundo.
Aos cinco anos foi para a escola pública, nos Estados Unidos da América, e, curiosamente, foi matriculado numa turma para deficientes, embora falasse muito bem o italiano e um dialeto, além de saber falar um pouco de francês e espanhol. Mas não falava muito bem o inglês... Vai entender essa gente! Talvez tenha sido nessa época que começaram a “rotulá-lo”.

Para nos mostrar que os rótulos são fenômenos que apenas distanciam as pessoas, Leo Buscaglia conta algumas histórias...

Diz que ao chamarem-no de "carcamano" e "gringo" as pessoas mostravam que não sabiam nada, dele. Não sabiam, por exemplo, que seu pai tinha sido garçom, quando chegaram aos EUA, e que trabalhava até tarde; que sua mãe ficava um pouco solitária e então juntava os 11 filhos para cantarem óperas. Cantavam "Aida", "La Boheme", e brigavam pelos papeis. Ele tinha 10 ou 11 anos, nessa época, e sabiam as óperas de cor; e todos os 12 podiam cantar qualquer papel!!

E então vem a história do jantar...

Buscaglia nos conta que aquelas pessoas ignoravam a regra de seu pai, segundo a qual, antes de saírem da mesa de jantar, tinham de lhe contar algo novo que houvessem aprendido durante o dia. Leia nas palavras do próprio Leo como eram as suas noites:

"...Considerávamos isso uma coisa horrível, uma coisa maluca para ser feita! Enquanto eu e minhas irmãs lavávamos as mãos ou começávamos a tomar a sopa, eu dizia:
- É melhor aprendermos alguma coisa.
E corríamos para a enciclopédia, procurávamos algo do tipo 'a população do Irã é de um milhão...', e ficávamos murmurando para nós mesmos:
- A população do Irã é de...
Depois de um jantar composto por grandes travessas de espaguete e montes de carne tão altos que nem conseguíamos enxergar o outro lado da mesa, papai afastava a cadeira, pegava seu pequeno charuto preto e dizia:
- Felice, o que você aprendeu hoje?
E eu falava, monotonamente:
- A população do Irã é de...

Nada era insignificante para esse homem. Virava-se para minha mãe e dizia:
- Rosa, você sabia disso?
E ela, impressionada:
- Não!
Pensávamos: 'Essas pessoas são malucas.'

Mas vou contar-lhes um segredo. Mesmo agora, indo para a cama de noite, exausto como costumo estar, ainda paro e digo a mim mesmo:
- Felice, meu velho, o que você aprendeu de novo, hoje?

E se não consigo me lembrar de nada, pego um livro e procuro algo antes de conseguir dormir. Talvez isso é que seja aprender. Mas eles não sabiam disso quando me chamavam de carcamano. Os rótulos são fenômenos que distanciam: parem de usá-los. E quando alguém perto de você usá-los, tenha a iniciativa de dizer:
- Sobre o quê e quem vocês estão falando? Não conheço nada desse gênero.

Se cada um e todos nós pararmos de fazê-lo, isso não acontecerá mais... Existem muitas coisas bonitas em cada ser humano, para que seja rotulado e marginalizado."

Depois de ler sobre isso, você pode estar pensando na bênção que é ter pais amáveis e preocupados com você, com seu crescimento, seu desenvolvimento, seu bem-estar presente e futuro. Como é incrível ter um pai que educa, que valoriza o que você sabe e o seus esforços para aprender mais; que lhe sorri; que deixa lições pra vida toda; que gasta seu tempo ouvindo você, amando você; que o “obriga” a fazer coisas das quais você jamais se esquecerá, passe o tempo que passar...

Como é maravilhoso ter um pai assim! 
Obrigada, Deus! Eu sei o que é isso.

Eu não sei, entretanto, que espécie de pai você tem ou teve; não sei nem mesmo se você conheceu o seu pai; também não sei que tipo de filho você foi ou tem sido, e talvez não haja mais tempo para mudar as coisas, ser um pai mais presente, um filho mais agradecido, menos problemático ou mais carinhoso... Porque talvez alguém, nessa relação, já não esteja mais presente...

Mas eu posso lhe dizer que há um Pai que lhe aceita e quer como filho, para ajudar você a crescer, não cometer os mesmos erros, um Pai que quer estar com você todas as tardes, manhãs e noites, carregar você em Seus braços, ensinar lições que jamais serão esquecidas, ajudá-lo a alcançar seus sonhos, um Pai que pode amar você incondicionalmente, inclusive a despeito de todas as falhas que você já cometeu, de todo o desânimo que você sinta pra seguir em frente...

Como dizem os versos de Eu Conheço Alguém, “Ele é Jesus, outro mais não pode haver / Pois Ele é o mesmo que inspira força pra viver...”.

Desejo a você um Feliz Dia dos Pais, neste domingo.
Mas lembre-se de que uma relação entre pai e filho não se resume a um dia de comemoração; uma relação assim se constrói diariamente, e se conserta a cada dia, se for preciso.
Com seu Pai do Céu não é diferente...
Viva esse amor. Corra pros braços do seu Pai!


Um comentário:

  1. Um pai, mesmo calado, muitas vezes só com o olhar, fala e ensina muito.
    Lembro-me do olhar de meu pai, vislumbro nele o olhar de Deus,
    Sou grato a Deus pelo pai que tive. Peço a Deus hoje para ser um pai mais compreensivo e amável.

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